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Animum exerce in optimis rebus

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Questões sobre o livro III da República - parte 3

10) O mito das três raças

Conforme à função do mito na educação das crianças já estabelecida por Sócrates anteriormente, ele conta um mito cuja função é fazer as crianças entenderem desde cedo a natureza da constituição da cidade e a necessidade de cada um conformar-se à sua função natural para que a cidade fique saudável. Segundo o mito, os seres humanos foram forjados no interior da terra e com terra foram moldados pelo deus, mas o deus acrescentou ouro, prata ou ferro/bronze à terra para constituir a alma dos homens; o ouro, que é menos abundante a um número menor de indivíduos e a maioria constitui-se do metal mais abundante, o ferro e o bronze. Aos que possuem ouro na alma, deu a função de governar, aos que possuem prata a função de auxiliar os governantes como guardiões da cidade e aos que tivesse ferro ou bronze na alma seriam artesãos ou lavradores. Cabe ressaltar que esta divisão não é, em princípio uma divisão sócio-econômica, pois teoricamente todos os cidadãos são iguais em direitos econômicos e sociais e vivem todos frugalmente, quer dizer, os que tem ouro na alma não devem ter privilégios econômicos; trata-se de uma divisão natural, é o nascimento que reserva para uns uma função, para outros, outra; desobedecer à natureza é pôr a cidade em risco.

11) A não hereditariedade do poder.

Depois que os seres humanos foram forjados pelo deus, eles naturalmente passaram a procriar por meio das relações sexuais. Naturalmente, um indivíduo com ouro na alma tenderia a ter filhos semelhantes a si e o mesmo vale para os outros; mas isso não é necessário, pode ser que um homem de ouro tenha filhos de prata ou ferro e vice-versa. São os governantes os responsáveis por assistir à educação dos jovens e descobrir qual a constituição de cada um(se de ouro, prata, ferro ou bronze), disso depende também a sobrevivência da cidade, pois se ela for defendida por guardiões de ferro ou bronze (isto é por guardiões não aptos), será destruída. Sendo assim, o poder não é hereditário, o filho de um governante não é necessariamente talhado para governar e um filho de artesãos ou lavradores pode ter a inclinação natural para ser governante.

12-13) A vida dos guardiões

Reforçando o que se disse a respeito das três classes, os indivíduos com ouro ou prata na alma não deveriam considerar sua posição como um privilégio e sim como um dever a cumprir para com a cidade. Sócrates imagina que certas regras devem ser estabelecidas na cidade quanto à vida dos guardiões para que eles desempenhem bem sua função. Como eles não exercem atividade produtiva, seriam sustentados pela cidade recebendo um salário para o exercício da função. Mas como em tudo o mais, esse salário deveria obedecer o critério da moderação e da simplicidade; deveria se constituir de condições básicas para que os governantes tivessem uma vida tranqüila, mas sem luxos. Assim, eles deveriam receber da cidade uma alimentação simples, sem sofisticação e apenas o necessário, não deveriam possuir bens exceto os de uso pessoal (como roupas e e sapatos) ; também não poderiam ter propriedades nem mesmo para habitação, uma vez que teriam todos uma habitação comum e fariam refeições em comum, finalmente, seriam proibidos de negociar com dinheiro. Todas essas medidas eram para evitar que o guardião utilizasse sua posição para obter privilégios e assim, ao invés de ajudar seus concidadãos, os oprimiria.

Questões sobre o livro III da República - parte 2

4-9) A educação dos jovens – futuros guardiões

A sobrevivência da cidade depende do estrito cumprimento das funções a que cada cidadão é destinado por natureza, especialmente os guardiões, afinal são eles os responsáveis por vigiar a observância da justiça, devem ter um instinto de filósofo, isto é precisam ser capazes de discernir o bem e o mal e agir com coragem. Para atingir tal constituição, a sua educação deve ser considerada o fundamento da cidade justa. Todos os aspectos da educação dos futuros guardiões devem levar em conta o tipo de função que ele deverá exercer e o seu perfeito conhecimento da justiça. O critério da moderação e da simplicidade deve ser buscado em tudo, especialmente para se atingir o equilíbrio entre corpo e alma.
Assim é que, nos mitos e relatos poéticos devem ser evitadas as narrativas que realçam o caráter dramático da morte ou que apresentem os deuses e heróis em situações moralmente reprováveis; deve-se preferir mesmo as composições poéticas do gênero lírico e os poetas que não quiserem ou não forem capazes de obedecer tal critério devem ser expulsos da cidade ( eis aí o tema conhecido e controvertido da censura em Platão).
Quanto à música, deve também possuir um conteúdo moralmente elevado que instigue à busca e aprimoramento das virtudes, o que deve ser conseguido usando-se apenas instrumentos musicais simples (evitar a sofisticação que desvia a forma do conteúdo) e ritmos moderados.
Com relação à educação do corpo, será preciso harmonizar a prática de exercícios (ginástica) com uma alimentação adequada. Já se falou no livro II sobre a importância da ginástica, uma vez que esses guardiões serão guerreiros que defenderão a cidade e tem, por isso, que ser fortes e estar preparados para batalhas; quanto à alimentação, ela deve ser bem simples, evitando-se todos os excessos e os alimentos que provocam enfermidades (Platão faz eco a uma idéia que parece válida até hoje: a consciência de que a saúde do corpo depende basicamente de uma alimentação saudável).
Um papel curioso se reserva à medicina numa cidade guiada por tais regras de cuidados com o corpo; poderia se pensar que, cuidando do corpo dessa forma não haveria enfermidades e nem lugar para os médicos nessa cidade. Mas Glauco observa que mesmo nessa cidade, os bons médicos seriam necessários e Sócrates acrescenta que seriam aceitos na cidade os médicos que tivessem real conhecimento de sua arte para poderem atuar como juízes; sim porque a eles caberia decidir, em caso de doença de um cidadão (criança, jovem ou velho), se a doença era curável ou não e os que fossem considerados incuráveis seriam sumariamente descartados da cidade justa (este é possivelmente o ponto de mais difícil defesa na utopia platônica, parece uma justificação da eugenia tal como era praticada em Esparta e como modernamente se tentou fazer na Alemanha nazista; não se entende bem a necessidade disso, o que se pode dizer é que talvez Platão esteja se esforçando para chegar o mais próximo possível do estado de natureza).
Enfim, deveriam ser selecionados então para serem educados como guardiões os jovens que, desde cedo apresentasse tendência a viver segundo o critério da justiça e que, além disso se destacassem tanto nos cuidados com a alma como nos cuidados com o corpo, deviam procurar um equilíbrio entre a ginástica e a música, os que se destacassem só na música mas não fossem bons na ginástica seriam moles demais para exercer a função de guardião e os que se destacassem apenas na ginástica seriam grosseiros demais para a mesma função.

Questões sobre livro III da República - parte 1

13 Questões sobre o livro III da República de Platão.


1) Crítica de Sócrates à mitologia que então se ensinava às crianças

Duas são as críticas de Sócrates aos mitos contados às crianças: em primeiro lugar eles enchem as pessoas de medo da morte, em segundo lugar, eles apresentam muitas vezes os deuses e heróis, que deveriam ser modelos de comportamento, em situações moralmente degradantes (sendo injustos, egoístas, ciumentos, etc.).

2) Como deveriam ser os mitos na educação das crianças

Os mitos deveriam conter narrativas de conteúdo moral edificante e deveriam amenizar o drama da morte, para que as crianças cultivassem as virtudes (justiça, coragem, honra e temperança), sendo os deuses e heróis modelos para elas.

3) Os tipos de relatos poéticos

Sócrates classifica os relatos poéticos quanto à forma escolhida pelo autor para apresentar seu pensamento (note que esses tipos de relato poéticos são as composições de autor, ao contrário do mito, que é uma criação anônima). Se o autor expressa sua idéia de forma direta, temos o gênero lírico; se ele se utiliza de uma narrativa, expressando um sentimento ou pensamento por meio do enredo e da fala dos personagens, temos os gêneros tragédia e comédia e há um terceiro tipo que é uma mistura dos dois tipos anteriores, que é o caso da epopéia.