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Animum exerce in optimis rebus

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Questões sobre o livro III da República - parte 2

4-9) A educação dos jovens – futuros guardiões

A sobrevivência da cidade depende do estrito cumprimento das funções a que cada cidadão é destinado por natureza, especialmente os guardiões, afinal são eles os responsáveis por vigiar a observância da justiça, devem ter um instinto de filósofo, isto é precisam ser capazes de discernir o bem e o mal e agir com coragem. Para atingir tal constituição, a sua educação deve ser considerada o fundamento da cidade justa. Todos os aspectos da educação dos futuros guardiões devem levar em conta o tipo de função que ele deverá exercer e o seu perfeito conhecimento da justiça. O critério da moderação e da simplicidade deve ser buscado em tudo, especialmente para se atingir o equilíbrio entre corpo e alma.
Assim é que, nos mitos e relatos poéticos devem ser evitadas as narrativas que realçam o caráter dramático da morte ou que apresentem os deuses e heróis em situações moralmente reprováveis; deve-se preferir mesmo as composições poéticas do gênero lírico e os poetas que não quiserem ou não forem capazes de obedecer tal critério devem ser expulsos da cidade ( eis aí o tema conhecido e controvertido da censura em Platão).
Quanto à música, deve também possuir um conteúdo moralmente elevado que instigue à busca e aprimoramento das virtudes, o que deve ser conseguido usando-se apenas instrumentos musicais simples (evitar a sofisticação que desvia a forma do conteúdo) e ritmos moderados.
Com relação à educação do corpo, será preciso harmonizar a prática de exercícios (ginástica) com uma alimentação adequada. Já se falou no livro II sobre a importância da ginástica, uma vez que esses guardiões serão guerreiros que defenderão a cidade e tem, por isso, que ser fortes e estar preparados para batalhas; quanto à alimentação, ela deve ser bem simples, evitando-se todos os excessos e os alimentos que provocam enfermidades (Platão faz eco a uma idéia que parece válida até hoje: a consciência de que a saúde do corpo depende basicamente de uma alimentação saudável).
Um papel curioso se reserva à medicina numa cidade guiada por tais regras de cuidados com o corpo; poderia se pensar que, cuidando do corpo dessa forma não haveria enfermidades e nem lugar para os médicos nessa cidade. Mas Glauco observa que mesmo nessa cidade, os bons médicos seriam necessários e Sócrates acrescenta que seriam aceitos na cidade os médicos que tivessem real conhecimento de sua arte para poderem atuar como juízes; sim porque a eles caberia decidir, em caso de doença de um cidadão (criança, jovem ou velho), se a doença era curável ou não e os que fossem considerados incuráveis seriam sumariamente descartados da cidade justa (este é possivelmente o ponto de mais difícil defesa na utopia platônica, parece uma justificação da eugenia tal como era praticada em Esparta e como modernamente se tentou fazer na Alemanha nazista; não se entende bem a necessidade disso, o que se pode dizer é que talvez Platão esteja se esforçando para chegar o mais próximo possível do estado de natureza).
Enfim, deveriam ser selecionados então para serem educados como guardiões os jovens que, desde cedo apresentasse tendência a viver segundo o critério da justiça e que, além disso se destacassem tanto nos cuidados com a alma como nos cuidados com o corpo, deviam procurar um equilíbrio entre a ginástica e a música, os que se destacassem só na música mas não fossem bons na ginástica seriam moles demais para exercer a função de guardião e os que se destacassem apenas na ginástica seriam grosseiros demais para a mesma função.

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