BEM VINDO

Animum exerce in optimis rebus

domingo, 2 de dezembro de 2007

Resultado Final 1º Ano

Parabéns aos seguintes alunos, que já atingiram os pontos necessários para entrar em férias, pelo menos quanto à disciplina Filosofia.

1º A : Acsa, Aline, Anderson nº5, Bianca Nº8, Bruna Nº10, Camila, Frederico, Gabriela, Gabriella, Larissa, Letícia, Luiz G., Mariana Nº29, Matheus, Otávio, Pâmela, Renan, Thaís, Thiago Nº41, Victor, Wellington, e Bruna Nº 47.

1º B: Bruna Nº3, Bruno, Caio Nº6, Camila Nº9, Camila Nº11, Felipe Nº17, Fernanda, Franciele, Kele, Rafael Nº29, Rodolfo, Rogério, Stephanie, Thaís Nº38, Thaís Nº40, Valkíria, Viviane, Ariane e Gabriel.

1º C: Aline Nº2, Gabriela Nº14, Giovanna, Jéssica Nº21, Jéssica Nº22, Joyce, Lorraina, Márcia, Pedro, Sarah, Guilherme, Luana e Maiara.

1º D: Alessandra, Amanda, Beatriz, Gabriel Nº14, Gabriel Nº15, Helen, Janine, Jéssica, Jessyca, Jucélio, Karen, Luan, Matheus, Rafael, Tamíris, Thaís Nº38, Yandra e Maiara.

Os demais alunos terão ainda uma chance na bacia das almas, na segunda, dia 3 ou na quarta, dia 5. Procure-me na escola na segunda.

Parabéns especialmente aos alunos que fizeram 28 pontos ou mais (média 7); são eles: Aline, Pâmela e Bruna Souza do 1º A, Bruna Christine, Bruno, Camila Ferreira, Stephanie e Viviane do 1º B, Pedro e Guilherme Henrique do 1º C e Jessyca Pereira do 1º D.

sábado, 1 de dezembro de 2007

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Minha lembrança de formatura para os alunos do 3º ano.

Caros alunos,

Chegamos ao fim do ano letivo e para vocês, do 3º ano, chegou o fim de uma fase.
Deveria dar um friozinho na barriga, mas se eu me lembro, não senti nada diferente quando chegou a minha vez. Só mais tarde é que perceberemos a dimensão deste momento na vida, principalmente o que deveria ter sido feito e não foi, o que devia ter sido mais curtido e não foi... agora já era, ou como diz aquele outro poeta: "o tempo não pára".
Acontece o seguinte: resolvi pegar todas as fotos que eu tinha dos alunos no meu micro e montar um slide, coloquei com a música "Forever Young" de Bob Dylan e uma tradução (por favor não vão me corrigir) como legenda. Nesta música Dylan reflete sobre o mito da juventude eterna, que era uma discussão tão urgente em sua época, mas que hoje parece ter sido abandonada (é que hoje todos querem virar adultos sérios e, se possível, cheios de grana, muito rapidamente).
O resultado final está aí abaixo. Como não verei mais a maioria de vocês, fiquem à vontade para comentar. E, por favor, não me processem por direito de imagem que eu não tenho dinheiro para pagar.
Também estou tentando colocar no site You Tube, lá você deve procurar o vídeo usando as palavras "Culto à Ciência 2007" ou "professor Anselmo".
Tem um recadinho no vídeo a respeito da cultura americana, da qual Dylan faz parte, e a respeito da qual alguns alunos (dos bons) já me atazanaram, a começar pelo adjetivo "americana" (podem procurar no Aurélio, está lá). Os que me conhecem um pouco sabem que a música caipira é, para mim, tão importante quanto a de Dylan. Mas a cultura humana é universal, não é por se expressar numa língua diferente da nossa que um poema ou uma música deixam de nos dizer respeito. E não é pelo fato de os americanos em geral se comportarem como donos do mundo que deveremos execrar todas as manifestações de sua cultura.
Mas chega de defender os americanos. Mais abraços, mais desejos de felicidade.
Até um dia.

PS: Desculpem-me, se puderem, da ausência na colação de grau.



quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Texto para a 1ª Serie


Práticas públicas e práticas secretas

Apesar do caráter publico das manifestações sociais mais importantes, tanto no plano político como no plano religioso sobrevivem há a sobrevivência de praticas secretas. No domínio da religião, desenvolvem-se à margem da cidade e ao lado do culto público, associações fundadas secretamente. Seitas, confrarias e mistérios são grupos fechados, hierarquizados, comportando escalas e graus. Organizados sob o modelo das sociedades de iniciação, sua função é selecionar, por meio de uma série de provas, uma minoria de eleitos que se beneficiarão com privilégios inacessíveis ao comum. Mas, contrariamente às iniciações antigas às quais os jovens guerreiros (os couroi) eram submetidos e que lhes conferiam uma habilitação ao poder, os novos agrupamentos secretos são doravante confinados a um terreno puramente religioso. No quadro da cidade, a iniciação não pode mais trazer senão uma transformação "espiritual", sem repercussão política. Os eleitos, os epoptas, são puros, santos. Aparentados com o divino, estão certamente votados a um destino excepcional, mas conhecê-lo-ão no além. A promoção com que eles se beneficiam pertence a um outro mundo.

A todos que desejam conhecer a iniciação o mistério oferece, sem restrição de nascimento nem de classe, a promessa de uma imortalidade bem-aventurada, que era na origem privilégio exclusivamente real; divulga, no círculo mais amplo dos iniciados, os segredos religiosos que pertencem como propriedade particular a famílias sacerdotais como os Kérykes ou os Eumólpides. Mas, apesar dessa democratização de um privilégio religioso, o mistério em nenhum momento se coloca numa perspectiva de publicidade. Ao contrário, o que o define como mistério é a pretensão de atingir uma verdade inacessível por vias normais e que não poderia de maneira alguma ser "exposta"; é a pretensão de obter uma revelação tão excepcional que dá acesso a uma vida religiosa desconhecida do culto de Estado e que reserva aos iniciados uma sorte sem comparação com a condição ordinária do cidadão. O segredo toma assim, em contraste com a publicidade do culto oficial, uma significação religiosa particular: define uma religião de salvação pessoal visando transformar o indivíduo independentemente da ordem social, a realizar nele uma espécie de novo nascimento que o destaque do estatuto comum e o faça penetrar num plano de vida diferente.

Mas, nesse terreno, as pesquisas dos primeiros Sábios iam retomar as preocupações das seitas a ponto de se confundirem às vezes com elas. Os ensinamentos da Sabedoria, como as revelações dos mistérios. pretendem transformar o homem no íntimo, elevá-Io a uma condição superior, fazer dele um ser único, quase um deus, um theios anér. Se a cidade se dirige ao Sábio, quando se sente entregue à desordem e à impureza, se lhe pede a solução de seus males, é precisamente porque ele lhe aparece como um ser à parte, excepcional, um homem divino que todo seu gênero de vida isola e coloca à margem da comunidade. Reciprocamente, quando o Sábio se dirige à cidade, pela palavra ou por escrito, é sempre para transmitir-lhe uma verdade que vem do alto e que, mesmo divulgada, não deixa de pertencer a um outro mundo, estranho à vida ordinária. A primeira sabedoria constitui-se assim numa espécie de contradição em que se exprime sua natureza paradoxal: entrega ao público um saber que proclama ao mesmo tempo inacessível à maior parte. Não tem ele por objeto revelar o invisível, fazer ver esse mundo dos ádela que se dissimula atrás das aparências? A sabedoria revela uma verdade tão prestigiosa que deve ser paga ao preço de duros esforços e que fica, como a visão dos epoptas, oculta aos olhos do vulgo; exprime certamente o segredo, formula-o em palavras, mas o povo não pode apreender seu sentido. Leva o mistério para a praça pública; faz dele o objeto de um exame, de um estudo, sem deixar entretanto completamente de ser um mistério. Aos ritos de iniciação tradicionais que proibiam o acesso às revelações interditas, a sophia e a philosophia substituem outras provas: uma regra de vida, um caminho de ascese, uma via de pesquisa que, ao lado das técnicas de discussão, de argumentação ou dos novos instrumentos mentais como as matemáticas, conservam em seu lugar antigas práticas divinatórias, exercícios espirituais de concentração, de êxtase, de separação da alma e do corpo.

A filosofia vai encontrar-se, pois, ao nascer, numa posição ambígua: em seus métodos, em sua inspiração, aparentar-se-á ao mesmo tempo às iniciações dos mistérios e às controvérsias da ágora; flutuará entre o espírito de segredo próprio das seitas e a publicidade do debate contraditório que caracteriza a atividade política. Segundo os meios, os momentos, as tendências, ver-se-á que, como a seita pitagórica na Grande Grécia, no século VI, ela organiza-se em confraria fechada e recusa entregar à escrita uma doutrina puramente esotérica. Poderá também, como o fará o movimento dos Sofistas, integrar-se inteiramente na vida pública, apresentar-se como uma preparação ao exercício do poder na cidade e oferecer-se livremente a cada cidadão, mediante lições pagas a dinheiro. Dessa ambigüidade que marca sua origem, a filosofia grega talvez jamais se tenha libertado inteiramente. O filósofo não deixará de oscilar entre duas atitudes, de hesitar entre duas tentações contrárias. Ora afirmará ser o único qualificado para dirigir o Estado, e, tomando orgulhosamente a posição do rei-divino, pretenderá, em nome desse "saber" que o eleva acima dos homens, reformar toda a vida social e ordenar soberanamente a cidade. Ora ele se retirará do mundo para recolher-se numa sabedoria puramente privada; agrupando em tomo de si alguns discípulos, desejará com eles instaurar, na cidade, uma cidade diferente, à margem da primeira e, renunciando à vida pública, buscará sua salvação no conhecimento e na contemplação.


A ISONOMIA

Aos dois aspectos que assinalamos - prestígio da palavra, desenvolvimento das práticas públicas -, um outro traço se acrescenta para caracterizar o universo espiritual da polis. Os que compõem a cidade, por mais diferentes que sejam por sua origem, sua classe, sua função, aparecem de uma certa maneira "semelhantes" uns aos outros. Esta semelhança cria a unidade da polis porque, para os gregos,só os semelhantes podem encontrar-se mutuamente unidos pela Philia, associados numa mesma comunidade. O vínculo do homem com o homem vai tomar assim, no esquema da cidade, a forma de uma relação recíproca, reversível, substituindo as relações hierárquicas de submissão e de domínio. Todos os que participam do Estado vão definir-se como Hómoioi, semelhantes, depois, de maneira mais abstrata, como os Isoi, iguais.

Apesar de tudo o que os opõe no concreto da vida social, os cidadãos se concebem, no plano político, como unidades permutáveis no interior de um sistema cuja lei é o equilíbrio, cuja norma é a igualdade. Essa imagem do mundo humano encontrará no século VI sua expressão rigorosa num conceito, o de isonomia: igual participação de todos os cidadãos no exercício do poder. Mas antes de adquirir esse valor plenamente democrático e de inspirar, no plano institucional, reformas como as de Clístenes, o ideal de isonomia pôde traduzir ou prolongar aspirações comunitárias que remontam muito mais alto, até as origens da polis. Vários testemunhos mostram que os termos isonomia, isocratia, serviram, em círculos aristocráticos, para definir, por oposição ao poder absoluto de um só (a monarchia ou a tyrannía), um regime oligárquico em que a arché é reservada a um pequeno número, excetuando-se a massa, mas é partilhada de maneira igual entre todos os membros dessa elite. Se a exigência de isonomia pôde adquirir no fim do século VI uma tal força, pôde-se justificar a reivindicação popular de um livre acesso do demos a todas as magistraturas, foi sem dúvida porque se enraizava numa tradição igualitária muito antiga, foi porque correspondia mesmo a certas atitudes psicológicas da aristocracia dos hippeis. É, com efeito, essa nobreza militar que estabelece pela primeira vez, entre a qualificação guerreira e o direito de participar nos negócios públicos, uma equivalência que não será mais discutida. Na polis, o estado de soldado coincide com o de cidadão: quem tem seu lugar na formação militar da cidade igualmente o tem na sua organização política. Ora, desde o meio do século VII, as modificações do armamento e uma revolução na técnica do combate transformam o personagem do guerreiro, renovam seu estatuto social e seu retrato psicológico. O aparecimento do hoplita, pesadamente armado, combatendo em linha, e seu emprego em formação cerrada segundo o princípio da falange dão um golpe decisivo nas prerrogativas militares dos hippeis. Todos os que podem fazer as despesas de seu equipamento de hoplitas - isto é, os pequenos proprietários livres que formam o demos, como são em Atenas os zeugitas -, acham-se colocados no mesmo plano que os possuidores de cavalos.

Mas, mesmo neste caso, a democratização da função militar - antigo privilégio aristocrático - causa uma transformação completa da ética do guerreiro. O herói homérico, o bom .condutor de carros, podia ainda sobreviver na pessoa do hippeus; já não tem muita coisa em comum com o hoplita, esse soldado-cidadão. O que contava para o primeiro era a façanha individual, a proeza feita em combate singular. Na batalha, mosaico de duelos em que se enfrentam os prómachoi, o valor militar afirmava-se sob forma de uma aristeia, de uma superioridade toda pessoal. A audácia que permitia ao guerreiro executar aquelas ações brilhantes, encontrava-a numa espécie de exaltação, de furor belicoso, a lyssa, onde o lançava, como fora de si mesmo, o menos, o ardor inspirado por um deus. Mas o hoplita já não conhece o combate singular; deve recusar, se se lhe oferece, a tentação de uma proeza puramente individual. É o homem da batalha de braço a braço, da luta ombro a ombro. Foi treinado em manter a posição, marchar em ordem, lançar-se com passos iguais contra o inimigo, cuidar, no meio da peleja, de não deixar seu posto. A virtude guerreira não é mais da ordem do thymós; é feita .de sophrosyne: um domínio completo de si, um constante controle para submeter-se a uma disciplina comum, o sangue frio necessário para refrear os impulsos instintivos que correriam o risco de perturbar a ordem geral da formação. A falange faz do hoplita, como a cidade faz do cidadão, uma unidade permutável, um elemento semelhante a todos os outros, e cuja aristeia, o valor individual, não deve jamais se manifestar senão no quadro imposto pela manobra de conjunto, pela coesão de grupo, pelo efeito de massa, novos instrumentos da vitória. Até na guerra, a Eris, o desejo de triunfar do adversário, de afirmar sua superioridade sobre outrem, deve submeter-se à Philia, ao espírito de comunidade; o poder dos indivíduos deve inclinar-se diante da lei do grupo. Heródoto. ao mencionar, após cada narrativa de batalha, os nomes das cidades e dos indivíduos que se mostraram os mais valentes em Platéia, dá a palma, entre os espartanos, a Aristodamo: o homem fazia parte dos trezentos lacedemônios que tinham defendido as Termópilas; só ele tinha voltado são e salvo; preocupado em lavar o opróbrio que os espartanos ligavam a essa sobrevivência, procurou e encontrou a morte em Platéia ao realizar façanhas admiráveis. Mas não foi a ele que os espartanos concederam, com o prêmio da bravura, as honras fúnebres devidas aos melhores; recusaram-lhe a aristeia porque, combatendo furiosamente, como um homem alucinado pela lyssa, tinha abandonado seu posto.

A narrativa ilustra de maneira surpreendente uma atitude psicológica que não se manifesta somente no domínio da guerra, mas que, em todos os planos da vida social, marca uma viragem decisiva na história da Polis. Chega um momento em que a cidade rejeita as atitudes tradicionais da aristocracia tendentes a exaltar o prestígio, a reforçar o poder dos indivíduos e dos gene, a elevá-Ios acima do comum. São assim condenados como descomedimento, como hybris - do mesmo modo que o furor guerreiro e a busca no combate de uma glória puramente particular - a ostentação da riqueza, o luxo das vestimentas, a suntuosidade dos funerais, as manifestações excessivas da dor em caso de luto, um comportamento muito ostensivo das mulheres ou o comportamento demasiado seguro, demasiado audacioso da juventude nobre.

Texto para a 1ª Serie

O UNIVERSO ESPIRITUAL DA POLIS

Jean Pierre Vernant

O aparecimento da polis constitui, na história do pensamento grego, um acontecimento decisivo. Certamente, no plano intelectual como no domínio das instituições, só no fim alcançará todas as suas conseqüências; a polis conhecerá etapas múltiplas e formas variadas. Entretanto, desde seu advento, que se pode situar entre os séculos VIII e VII marca um começo, uma verdadeira invenção; por ela a vida social e as relações entre os homens tomam uma forma nova, cuja originalidade será plenamente sentida pelos gregos.

O que implica o sistema da polis é primeiramente uma extraordinária preeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos do poder. Torna-se o instrumento político por excelência, a chave de toda autoridade no Estado, o meio de comando e de domínio sobre outrem. Esse poder da palavra - de que os gregos farão uma divindade: Peithó, a força de persuasão - lembra a eficácia das palavras e das fórmulas em certos rituais religiosos, ou o valor atribuído aos "ditos" do rei quando pronuncia soberanamente a themis; entretanto, trata-se na realidade de coisa bem diferente. A palavra não é mais o termo ritual, a fórmula justa, mas o debate contraditório, a discussão, a argumentação. Supõe um público ao qual ela se dirige como a um juiz que decide em última instância, de mãos erguidas, entre os dois partidos que lhe são apresentados; é essa escolha puramente humana que mede a força de persuasão respectiva dos dois discursos, assegurando a vitória de um dos oradores sobre seu adversário.

Todas as questões de interesse geral que o Soberano linha por função regularizar e que definem o campo da arché são agora submetidas à arte oratória e deverão resolver-se na conclusão de um debate; é preciso, pois, que possam ser formuladas em discursos, amoldadas às demonstrações antitéticas e às argumentações opostas. Entre a política e o logos, há assim relação estreita, vínculo recíproco. A arte política é essencialmente exercício da linguagem; e o logos, na origem, toma consciência de si mesmo, de suas regras, de sua eficácia, por intermédio de sua função política. Historicamente, são a retórica e a sofística que, pela análise que empreendem das formas do discurso como instrumento de vitória nas lutas da assembléia e do tribunal, abrem caminho às pesquisas de Aristóteles ao definir; ao lado de uma técnica da persuasão, regras da demonstração e ao pôr uma lógica do verdadeiro, própria do saber teórico, em face da lógica do verossímil ou do provável, que preside aos debates arriscados na prática.

Uma segunda característica da polis é o cunho de plena publicidade dada às manifestações mais importantes da vida social. Pode-se mesmo dizer que a polis existe apenas na medida em que se distinguiu um domínio público, nos dois sentidos diferentes, mas solidários do termo: um setor de interesse comum, opondo-se aos assuntos privados; práticas abertas, estabelecidas em pleno dia, opondo-se a processos secretos. Essa exigência de publicidade leva a apreender progressivamente em proveito do grupo e a colocar sob o olhar de todos o conjunto das condutas, dos processos, dos conhecimentos que constituíam na origem o privilégio exclusivo do basileus ou dos gene detentores da arché. Esse duplo movimento de democratização e de divulgação terá, no plano intelectual, conseqüências decisivas. A cultura grega constitui-se, dando a um círculo sempre mais amplo - finalmente ao demos todo - o acesso ao mundo espiritual, reservado no início a uma aristocracia de caráter guerreiro e sacerdotal (a epopéia homérica é um primeiro exemplo desse processo: uma poesia de corte, cantada primeiramente nas salas dos palácios; depois sai deles, desenvolve-se e transpõe-se em poesia de festa). Mas esse desenvolvimento comporta uma profunda transformação.

Tomando-se elementos de uma cultura comum, os conhecimentos, os valores, as técnicas mentais são levados à praça pública, sujeitos à crítica e à controvérsia. Não são mais conservados, como garantia de poder, no recesso de tradições familiares; sua publicação motivará exegeses, interpretações diversas, oposições, debates apaixonados. Doravante, a discussão, a argumentação, a polêmica tornam-se as regras do jogo intelectual, assim como do jogo político. O controle constante da comunidade se exerce sobre as criações do espírito, assim como sobre as magistraturas do Estado. A lei da polis, por oposição ao poder absoluto do monarca, exige que umas e outras sejam igualmente submetidas à "prestação de contas". Já se não impõem pela força de um prestígio pessoal ou religioso; devem mostrar sua retidão por processos de ordem dialética.

Era a palavra que formava, no quadro da cidade, o instrumento da vida política: é a escrita que vai fornecer, no plano propriamente intelectual, o meio de uma cultura comum e permitir uma completa divulgação de conhecimentos previamente reservados ou interditos. Tomada dos fenícios e modificada por uma transcrição mais precisa dos sons gregos, a escrita poderá satisfazer essa função de publicidade porque ela própria se tomou, quase com o mesmo direito da língua falada, o bem comum de todos os cidadãos. As mais antigas inscrições em alfabeto grego que conhecíamos mostram que, desde o século VIII, não se trata mais de um saber especializado, reservado a escribas, mas de uma técnica de amplo uso, livremente difundida no público. Ao lado da recitação decorada de textos de Homero ou de Hesíodo - que continua sendo tradicional-, a escrita constituirá o elemento de base da paideia grega.

Compreende-se assim o alcance de uma reivindicação que surge desde o nascimento da cidade: a redação das leis. Ao escrevê-las, não se faz mais que assegurar-lhes permanência e fixidez. Subtraem-se à autoridade privada dos basileis, cuja função era "dizer" o direito; tornam-se bem comum, regra geral, suscetível de ser aplicada a todos da mesma maneira. No mundo de Hesíodo, anterior ao regime da Cidade, a dike atuava ainda em dois planos, como dividida entre o céu e a terra: para o pequeno cultivador beócio, a dike é, neste mundo, uma decisão de fato dependente da arbitrariedade dos reis "comedores de presentes"; no céu, é uma divindade soberana, mas longínqua e inacessível. Ao contrário, pela publicidade que lhe confere a escrita, a dike, sem deixar de aparecer como um valor ideal, vai poder encarnar-se num plano propriamente humano, realizar-se na lei, regra comum a todos, mas superior a todos, norma racional, sujeita à discussão e modificável por decreto, mas que nem por isso deixa de exprimir uma ordem concebida como sagrada.

Quando, por sua vez, os indivíduos decidirem tornar público o seu saber por meio da escrita, seja sob forma de livro como os que Anaximandro e Ferecides teriam sido os primeiros a escrever ou como o que Herác1ito depositaria no templo de Ártemis em Éfeso, seja sob forma de parápegma, inscrição monumental em pedra, análoga às que a cidade faz gravar em nome de seus magistrados ou de seus sacerdotes (cidadãos particulares nelas inscreverão observações astronômicas ou tábuas de cronologia), sua ambição não será fazer conhecer a outros uma descoberta ou uma opinião pessoais; o que vão querer, depositando sua mensagem em público é fazer dela o bem comum da cidade, uma norma suscetível, como a lei, de impor-se a todos. Uma vez divulgada, sua sabedoria toma uma consistência e uma objetividade novas: ela constitui-se em si mesma como verdade. Não se trata mais de um segredo religioso, reservado a alguns eleitos, favorecidos por uma graça divina. Certamente, a verdade do sábio, como o segredo religioso, é revelação do essencial, descoberta de uma realidade superior que ultrapassa muito o comum dos homens; mas, entregue à escrita, ela é destacada do círculo fechado das seitas para ser exposta em plena luz aos olhares da cidade inteira; isto significa reconhecer que ela é por direito acessível a todos, aceitar submetê-la, como o debate político, ao julgamento de todos, com a esperança de que em definitivo será por todos aceita e reconhecida.
Essa transformação de um saber secreto de tipo esotérico num corpo de verdades divulgadas no público tem seu paralelo num outro setor da vida social. Os antigos sacerdócios pertenciam como propriedade particular a certos gene e marcavam seu parentesco especial com um poder divino; a polis, quando é constituída, confisca-os em seu proveito e os transforma em cultos oficiais da cidade. A proteção que a divindade reservava outrora a seus favoritos vai doravante exercer-se em benefício da comunidade toda. Mas quem diz culto de cidade diz culto público. Todos os antigos sacra, sinais de investidura, símbolos religiosos, brasões. xóana de madeira, zelosamente conservados como talismãs de poderio no recesso dos palácios ou no fundo das casas de sacerdote, vão emigrar para o templo, morada aberta, morada pública. Nesse espaço impessoal que se volta para fora e doravante projetar no exterior a decoração de seus frisos esculpidos, os velhos ídolos transformam-se por sua vez: perdem, com seu caráter secreto, sua virtude de símbolo eficaz; eis que se tornam "imagens", sem outra função ritual senão a de serem vistos, sem outra realidade religiosa senão sua aparência. Da grande estátua cultual alojada no templo para nele manifestar o deus, poder-se-ia dizer que todo seu ser consiste doravante em um ser percebida. Os sacra, outrora carregados de uma força perigosa e não expostos à vista do público, tornam-se sob o olhar da cidade um espetáculo, um "ensinamento sobre os deuses", como sob o olhar da cidade, as narrativas secretas, as fórmulas ocultas se despojam de seu mistério e seu poder religioso para se tomarem as "verdades" que os Sábios vão debater.

Entretanto, não é sem dificuldade nem sem resistência que a vida social é assim entregue a uma publicidade completa. O processo de divulgação faz-se por etapas; encontra, em todos os domínios, obstáculos que limitam seus progressos.Mesmo no plano político, práticas de governo secreto mantêm, em pleno período clássico, uma forma de poder que opera por vias misteriosas e meios sobrenaturais. O regime de Esparta oferece os melhores exemplos desses processos secretos.

domingo, 9 de setembro de 2007

República de Platão - Livro IV - Respostas



1) Sócrates reafirma que eles deveriam se contentar com seu salário e cumprir sua missão, pois isso seria para o seu próprio bem e para o bem e a felicidade da cidade; o bom funcionamento da cidade dependia principalmente de que os guardiões desempenhem bem o seu papel.


2) A riqueza dá origem á preguiça e ao gosto pelo luxo e a pobreza também gera desleixo com o trabalho; por isso, a cidade em que há desigualdade econômica vive sempre dividida e é presa fácil para os inimigos. Daí vem o dever dos guardiões de cuidar para que a cidade não seja nem muito grande para não se tornar desunida nem muito pequena para se auto sustentar.


3) A principal medida para se evitar as desigualdades deve ser o cuidado para que cada pessoa seja encaminhada para a atividade para a qual nasceu, isto é, não se meta a querer fazer algo para o que sua natureza não o tenha habilitado.


4) A conformação de cada pessoa à tarefa para a qual nasceu só pode ser conseguida através da educação; por isso, a principal tarefa dos governantes é cuidar para que o sistema educacional não se desvirtue, ele deve garantir a boa qualidade do sistema, principalmente impedindo que se introduzam novidades nocivas.


5) A cidade boa deve possuir as virtudes da sabedoria, coragem, moderação e justiça.


6) O único saber que merece o nome de sabedoria é o saber dos governantes, que se realiza como a capacidade de fazer boas escolhas não sobre assuntos particulares mas sobre o conjunto da vida na cidade. É um saber possuído por poucos, que por isso mesmo, devem ser os governantes.


7) Sócrates diz que para tingir um tecido de vermelho, é preciso antes deixá-lo totalmente branco para que a tinta vermelha possa penetrar mais profundamente. A tintura vermelha simboliza a coragem que devem possuir os guardiões. O processo de tintura simboliza a educação que estes devem receber, a qual para ser eficaz deve começar desde cedo, com as crianças (tecido branco) recebendo exemplos de dedicação à pátria sendo valorizados e aprendendo histórias que valorizem essa dedicação à pátria e valorizando o código de honra dos guardiões.


8) A moderação é uma harmonia, um domínio que a parte superior da alma estabelece sobre a parte inferior, isto é a razão sobre os desejos, paixões, prazeres e dores.


9) Na parte superior da alma se encontra a razão, a inteligência e a ponderação, enquanto na parte inferior estão os desejos, as paixões e as dores; quando a parte inferior domina a superior, o que acontece pela má educação, a pessoa não pode ser considerada senhora de si, e assim também a cidade em que predomine esses sentimentos; já a pessoa senhora de si é aquela em que predominam os sentimentos simples frutos da razão e da inteligência.


10) A moderação se assemelha a uma harmonia natural entre o que é superior e o que é inferior. Essa é base da felicidade da cidade platônica; os que são por natureza inferiores devem aceitar o comando dos superiores. Por isso, essa virtude deve pertencer a todos os cidadãos, aprendendo a comandar os seus próprios desejos, cada cidadão pode entender a importância de se obedecer às ordens superiores.


11) A justiça na cidade consiste em que cada um execute a tarefa que lhe é própria, de acordo com sua classe (governante, guardião ou trabalhador), assim a justiça no indivíduo ocorre quando cada virtude (sabedoria, coragem, moderação) exerce a tarefa que lhe cabe.


12) As atividades de aprender, se encolerizar e desejar. Vemos que são partes diferentes porque podemos querer com uma parte o que recusamos com a outra (por exemplo, podemos ter sede e nos recusar a tomar água).


13) Segundo Sócrates, há três partes na alma. Há uma parte que raciocina, uma parte pela qual ela tem a capacidade de desejar e uma parte que se irrita, às vezes com razão, nos ajudando a refrear os desejos nocivos, mas que pode se irritar também sem razão, como as crianças birrentas ou mimadas.


14) Podemos dizer, com base no texto de Platão, que a capacidade de desejar é instintiva e tem por objetivo nos fazer agir para manter a nossa vida, por isso é definida como apetite (por comida, bebida, sexo, proteção);a capacidade de se encolerizar é diferente porque se traduz numa irritabilidade contra ou a favor dos desejos. Quando cedemos a um desejo e depois vemos que ele era nocivo (comer algo que sabemos que nos fará mal, por exemplo) sentimos raiva de ter agido assim, ou podemos sentir raiva por não poder realizar um desejo (querer uma pessoa que não nos ama, por exemplo). Para Platão, essas diferenças mostram que desejar e sentir raiva são faculdades diversas na alma.


15) O objetivo de Platão é identificar cada parte da alma com cada classe de cidadãos e assim transferir o conceito de justiça na cidade para a alma de cada cidadão.


16) A justiça na alma (alma justa) ocorre quando cada uma de suas partes cumpre a função para a qual existe e a parte superior comanda a parte inferior, assim também a justiça na cidade ocorre quando cada grupo executa bem sua tarefa e quando os inferiores respeitam os inferiores.


17) Sócrates compara a alma justa ao corpo sadio, em que todas as partes funcionam em harmonia; a alma injusta pode ser comparada então ao corpo doente, em que suas partes não funcionam bem; a alma justa é saudável e a alma injusta é doente.


18) A questão inicial era se a justiça vale por si mesma ou se é preferível ser justo ou injusto. Assumindo a segunda forma da questão, Glauco disse que seria ridículo perguntar se alguém prefere ser sadio ou doente, da mesma forma seria ridículo perguntar se alguém prefere ser justo ou injusto, já que a alma justa pode se comparar ao corpo sadio e a alma injusta ao corpo doente.

sábado, 11 de agosto de 2007

Perguntas sobre o livro IV da Republica

1) O capitulo começa com Adimanto dizendo que as imposições que se deveria fazer aos guardiões, impedindo-os de usufruir das riquezas da cidade, provocaria a infelicidade deles. Como Sócrates responde a essa indagação?

2) Explique por que a diferença econômica entre os cidadãos representa o maior perigo para a cidade.

3) O que deve ser feito para evitar essa desigualdade?

4) Como a educação pode ajudar a evitar a desigualdade econômica entre os cidadãos? Qual o papel dos guardiões quanto a isso?

5) Quais as virtudes da cidade boa?

6) A quem pertence a virtude da sabedoria na cidade? Como se exerce tal virtude?

7) Explique a metáfora do tintureiro usada por Sócrates para definir a coragem.

8) O que e moderação?

9) Explique a distinção entre a parte superior e a parte inferior do ser humano.

10) Por que a moderação deve pertencer a todos os cidadãos, não sendo exclusiva de nenhuma classe?

11) Como se define a justiça na cidade, em relação 'as demais virtudes?

12) Quais são as diferentes atividades de uma pessoa que nos levam a perceber que há, na alma, diferentes partes?

13) Quantas partes há na alma? O que faz cada uma delas?

14) Como se distingue a capacidade de desejar e a capacidade de se encolerizar?

15) Qual o objetivo de Platão ao identificar 3 partes na alma?

16) O que é a justiça considerando as 3 partes da alma? como se pode compara-la 'a justiça na cidade?

17) Explique a comparação feita por Sócrates entre justiça/injustiça e saúde/doença.

18) Após a exposição de Sócrates, Glauco faz um comentário a respeito da questão inicial do dialogo, se vale a pena praticar a justiça por si mesma. O que ele diz?

domingo, 5 de agosto de 2007

Eu sou o Jeca Tatu

Esse é o poema de Catulo da Paixão Cearense. Um comentário legal sobre ele, de umas 10 a 15 linhas, já livra da redação do bimestre. Não se esqueça que você deve responder ao Jeca Tatu defendendo a democracia. Você consegue?


EU SOU O JECA TATU

_ Como diz o caipira, “diz que”, há muito tempo, um tal senador andou escrevendo num jornal qualquer que o caipira é um preguiçoso, um indolente, um que só vive encostado, um punhado de coisas, enfim. O grande poeta Catulo da Paixão Cearense, colocou, então, na boca de um desses brasileiros, lá do sertão, uma resposta bem assim:


Seu dotô venho dos bredo, só pra mó de arrespondê
Toda aquela fardunsaje que vancê foi inscrevê
Não teje vancê jurgando que eu seje argum canguçu
Não sou não, seo conseiêro. Sou norte... sou violeiro...
E vivo naquelas mata cumo veve um sanhaçu
Vanssuncê já me cunhece: eu sou o Jeca Tatu

Com toda essa mapeage, vassuncê, seu senadô
Nunca um dia se alembrô que lá naquelas parage
A gente morre de fome e de sede, sim sinhô.
Vassuncê só abre o bico pra cantá como um cancão
Quando qué fazê seu ninho nos gaio de uma inleição

Vassuncê, que sabe tudo, é capaiz de arrespondê
Quando é que se ouve nos mato o canto do zabelê?
Em que hora que o macuco se põe-se mais a piá?
E quando é que a jacutinga tá mio de se caçá?
E quando é que o uru, entre as foiage, sabe mais assobiá?
Qual é, de todas as arve, a mais direita e empinada?
A que tem o pau mais duro
e a casca mais ancorada, hein?
Vancê num sabe qual é a madeira
que é mais boa pra se fazê uma canoa.

Vancê, no meio da tropa dos cavalo, seu doto,
Oiando pros animá semvê um só se movê,
Num é capaiz de iscoiê um cavalo esquipadô.
Eu queria vê vancê, no meio de uma burrada,
Somente por um esturro, dizê em conta ajustada
Quantos ano, quantas manha, quantos fio tem um burro.

Vancê só sabe de lezes que se faz com as duas mão.
Mas porém num sabe as lezes da natureza, e que Deus
Fez pra nóis com o coração.

Vancê num sabe cantá mais mio que um curió
Gemendo na beira da estrada
Vancê num sabe inscrevê num papé feito de terra
Quando a tinta é o suor e quando a pena é uma inxada
Se vancê num sabe disso num pode me arrespondê.
Óia aqui, seu conseieiro, Deus não feiz as mão do home
Somente pra ele inscrevê

Vassuncê é um Senadô, é um conseiêro, é um dotô,
É mais que um imperadô, é o mais grande cirdadão
Mas porém eu lhe garanto que nada disso seria
Naquelas mata bravia das terra do meu sertão.

A miséra, sêo doto, também a gente consola.
O orguio é que mata a gente.
Vancê qué ser Presidente ...
E eu sou quero ser rocêro e tocadô de viola

Vancê tem todo o direito de ganhá cém mir pru dia
Pra mió podê fala.
Mas porém o que num póde é a inguinorância insurtá.
A gente, sêo conseiêro tá cansado de esperá.

Vancê diz que a gente véve
com a mão no queixo, assentado
Sem fazê causo das coisa que vancê diz no senado.
E vassuncê tem razão. Se nóis tudo é anarfabéto,
Cumé que a gente vai lê toda aquela falação ?

Preguiçoso ? madracêro ? Não sinhô, sêo conseiêro.
É pruquê vancê num sabe o que seje um boiadêro
Criá cum tanto cuidado, cum tanto amô e alegria
Umas cabeça de gado e despois , a impedemia
Carregá tudo com os diabo em meno de quatro dia.

É pruquê vancê num sabe o trabaio desgraçado
Qui um homi tem , sêo doto, pra incoivará um roçado,
E quando o ouro do mio vai ficando embonecado
Pra gente entônce coiê... O mio morre de sede
Pulo sor esturricado, sequinho cumo vancê.

É pruquê vancê num sabe quanto é duro um pai sofrê
Vendo seu fio crescendo dizendo sempre...
Papai, vem me ensiná o A B C.
Se eu subesse, meu sinhô, inscreve, lê e conta
Intonce eu haverá de sabe como assunta
Tarveis vancê num dexasse o sertanejo morrendo mais pió que um anima

Pru móde a politicáia vancê qué que um homi sáia
Do sertão pra vim vota em Juaquim, Pedro ou Francisco
Quando vem a ser tudo iguá?

Preguiçoso? Madracero? Não sinhô, seo conseiêro...
Vancê não sabe de nada, vancê não sabe a corage
Que é preciso um homi te pra corrê nas vaquejada
Vossa incelença não sabe o valô de um sertanejo
Acerando uma queimada.
Vancê tem um casarão, tem um jardim, uma chácra
Tem criado de casaca.
E ganha todos os dia qué chova, qué faça sór
Só pra falá, cem mi ré.
Eu trabaio o ano inteiro somente quando Deus qué
Eu vivo do meu roçado me esfarfando como um burro
Pra sustentá oito fio, minha mãe e minha muié

Eu drumo im riba de um couro numa casa de sapé.
Vancê tem seu otromóve,
Eu pra vim no povoado ando dez légua de pé.

O sór teve tão ardente lá pras banda do sertão
Que em mêno de quinze dia perdi toda a criação.
Na semana retrasada o vento tanto ventô,
Que a páia que cobre a chóça foi pulos mato...avuô.

Minha muié ta morrendo só por farta de mézinha...
E pru farta de um dotô.
Minha fia que é bonita, bunita cumo uma frô..
Sêo dotô.. num sabe lê..
E o Juquinha que ainda ta cherando memo a cuêro
E já ponteia a viola,
Se entrasse lá pruma escola sabia mais que vancê.

Preguiçoso ? Madracêro ?
Não sinhô sêo conseiêro..Vancê diga aos cumpanhêro
que um cabra, o Zé das Caboca
Anda cantando estes versos que hoje lá no sertão
Avôa de boca em boca.

(canta) Eu prantei a minha roça, o tatu tudo comeu
prante roça quem quizé que o tatu hoje sou eu..

Vassuncê sabe onde ta o buraco adônde véve
O tatú esfomeado ?
Tá nos palaço da corte, dessa porção de ricaço
Que fez aquele palaço cum o sangue dos desgraçado.

Vancêis tem rio de açude, tem os dotô da hingena
Que é pra cuidá da saúde...
E nóis, o que é que tem ? Arresponda ?
No tempo das inleição que é o tempo das bandaiêra
Nóis só tem uma cangáia pra levá toda a porquêra
Dos dotô puliticáia.

Sinhô dotô Conseiero, de lezes, eu num sei nada,
Meu direito é minha inxada, meu palaço é de sapé
Quem dá lezes pra famía é minha boa muié
Eu sou fromado oito vêis, eu sou também conseiêro
Pruque tenho oito fiínho
E quem dá lezes pra minha arma
é as déis corda do meu pinho

Vancê qué ser presidente ? Apois seja, meu patrão.
A nossa terra, o Brasí já tem muita intiligência,
Muito homi de sabença que só dá pra espertaião.
Leva o diabo a falação.
Pra sarvá o mundo inteiro abasta ter coração.
Prôs homi de intiligência trago cumigo esta figa
Esses homi tem cabeça, mas porém o que é mais grande
do que a cabeça ..é a barriga.

Sêo conseiêro...um consêio.
Dêxe toda a birbotéca dos livro...e se um dia vancê quizé
Passá uns dia de fome, de fome e tarveis de sede,
E drumí lá numa rêde numa casa de sapé,
Vá passá comigo uns tempo nos mato do meu sertão,
Que eu hei de lhe abrir a porta da choça e do coração.

Eu vorto pros matagá, mas porém oiça premero:
Vancê pode nos xingá, chama nóis de madracêro...
Pru que nóis, sêo conseiêro, num qué ser mais bestaião...
Não .. Inquanto os homi de riba dexa nois tudo mazombo
E so tratá dos istambo e só tratá de inleição,
Sêo conseiêro hai de vê pitando seu caximbão,
O Jeca tatú se rindo, cuspindo, sempre cuspindo,
Com o quêxo em riba da mão.

Eu sei que sou um animá, eu não sei memo o que eu sô
Mas, porém eu lhe garanto que o que vancê já falô,
e o que ainda tem de falá, e o que ainda tem de escrevê...
todo..todo..o seu sabê e toda a sua saranha,
num vale uma palavrinha daquelas coisa bonita
que Jesuis numa tardinha disse em riba da montanha.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Bacia das almas turno da tarde correção

Deixa eu arrumar esse negócio

2F
1
2
3
4 1,5
5 0
6 3,5
7 1,5
8
9 3
10 3,5
11 3,5
12 2,5
13 4
14 2,5
15 4
16 3,5
17 1
18 3
19 4,5
20
21 1
22 2
23 2
24 1
25 3
26 3,5
27 2
28 2,5
29 3,5
30
31 2
32
33 3,5
34
35 4
36 3,5


2G

1 4
2
3
4 2,5
5 3,5
6 3,5
7
8 3,5
9 3
10 4
11
12
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15 3,5
16 3
17 2
18 3,5
19 3,5
20 4
21 3,5
22
23 2
24 2,5
25 4,5
26 3
27
28 2,5
29
30
31 3
32 3
33
34 2,5
35 3
36

Bacia das almas - Turmas da Tarde

Caros alunos do turno da tarde. Aí vão as listas dos 2ºs e 3ºs. Espero que ainda dê tempo de alguém ver antes da hora fatal.

3E - 01, 02, 04, 06, 07, 08, 10, 13, 15, 16, 21, 24, 25, 29, 30

3F - 03, 05, 07, 08, 10, 11, 14, 16, 18, 20, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31.

2ºs anos: Segue a lista com as notas da prova. Some com a nota do teste; se der 5, boas férias. Não sabe a nota do teste? Nem eu, meus diários ficaram na escola (desculpe a nossa falha).

2F 2G

1 4
2
3
4 1,5 2,5
5 0 3,5
6 3,5 3,5
7 1,5
8 3,5
9 3 3
10 3,5 4
11 3,5
12 2,5
13 4 2
14 2,5 3
15 4 3,5
16 3,5 3
17 1 2
18 3 3,5
19 4,5 3,5
20 4
21 1 3,5
22 2
23 2 2
24 1 2,5
25 3 4,5
26 3,5 3
27 2
28 2,5 2,5
29 3,5
30
31 2 3
32 3
33 3,5
34 2,5
35 4 3
36 3,5

Bacia das almas - Periodo matutino

Caros alunos.
Boas ferias para todos.
Consulte a lista dos alunos que podem fazer ainda uma tentativa de salvar o bimestre, nesta sexta, dia 29.

Lista da Primeira Serie

1A - 01, 03, 04, 06, 07, 09, 10, 12, 13, 14, 17, 18, 20,
21, 23, 25, 26, 27, 28, 30, 32, 33, 35, 37, 40, 44 e 45.

1B - 01, 02, 04, 06, 07, 08, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 20,
23, 24, 26, 27, 28, 30, 31, 33, 36, 37, 39, 40, 45, 46.

1C - 01, 02, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 10, 12, 13, 15, 17, 18, 19, 20, 23
26, 27, 30, 31, 32, 33, 34, 36, 37, 39, 40, 42, 43.

1D - 01, 04, 06, 07, 09, 11, 12, 13, 23, 25, 27, 28, 30, 31, 32, 35, 37, 39, 41


Lista dos Terceiros

3A - 03, 04, 06, 09, 16, 19, 20, 25, 26, 27, 28, 30, 33, 39.

3B - 02, 03, 05, 06, 07, 08, 12, 13, 14, 18, 20, 22, 25, 27, 31, 35, 36.

3C - 01, 02, 05, 07, 10, 11, 16, 19, 22, 25, 27, 29, 30, 32, 33, 35.

3D - 03, 17, 18, 19, 21, 22, 24, 32, 41.

Para os alunos cujos numeros nao se encontram nesta lista, boas ferias e ate a volta.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Questões sobre o livro III da República - parte 3

10) O mito das três raças

Conforme à função do mito na educação das crianças já estabelecida por Sócrates anteriormente, ele conta um mito cuja função é fazer as crianças entenderem desde cedo a natureza da constituição da cidade e a necessidade de cada um conformar-se à sua função natural para que a cidade fique saudável. Segundo o mito, os seres humanos foram forjados no interior da terra e com terra foram moldados pelo deus, mas o deus acrescentou ouro, prata ou ferro/bronze à terra para constituir a alma dos homens; o ouro, que é menos abundante a um número menor de indivíduos e a maioria constitui-se do metal mais abundante, o ferro e o bronze. Aos que possuem ouro na alma, deu a função de governar, aos que possuem prata a função de auxiliar os governantes como guardiões da cidade e aos que tivesse ferro ou bronze na alma seriam artesãos ou lavradores. Cabe ressaltar que esta divisão não é, em princípio uma divisão sócio-econômica, pois teoricamente todos os cidadãos são iguais em direitos econômicos e sociais e vivem todos frugalmente, quer dizer, os que tem ouro na alma não devem ter privilégios econômicos; trata-se de uma divisão natural, é o nascimento que reserva para uns uma função, para outros, outra; desobedecer à natureza é pôr a cidade em risco.

11) A não hereditariedade do poder.

Depois que os seres humanos foram forjados pelo deus, eles naturalmente passaram a procriar por meio das relações sexuais. Naturalmente, um indivíduo com ouro na alma tenderia a ter filhos semelhantes a si e o mesmo vale para os outros; mas isso não é necessário, pode ser que um homem de ouro tenha filhos de prata ou ferro e vice-versa. São os governantes os responsáveis por assistir à educação dos jovens e descobrir qual a constituição de cada um(se de ouro, prata, ferro ou bronze), disso depende também a sobrevivência da cidade, pois se ela for defendida por guardiões de ferro ou bronze (isto é por guardiões não aptos), será destruída. Sendo assim, o poder não é hereditário, o filho de um governante não é necessariamente talhado para governar e um filho de artesãos ou lavradores pode ter a inclinação natural para ser governante.

12-13) A vida dos guardiões

Reforçando o que se disse a respeito das três classes, os indivíduos com ouro ou prata na alma não deveriam considerar sua posição como um privilégio e sim como um dever a cumprir para com a cidade. Sócrates imagina que certas regras devem ser estabelecidas na cidade quanto à vida dos guardiões para que eles desempenhem bem sua função. Como eles não exercem atividade produtiva, seriam sustentados pela cidade recebendo um salário para o exercício da função. Mas como em tudo o mais, esse salário deveria obedecer o critério da moderação e da simplicidade; deveria se constituir de condições básicas para que os governantes tivessem uma vida tranqüila, mas sem luxos. Assim, eles deveriam receber da cidade uma alimentação simples, sem sofisticação e apenas o necessário, não deveriam possuir bens exceto os de uso pessoal (como roupas e e sapatos) ; também não poderiam ter propriedades nem mesmo para habitação, uma vez que teriam todos uma habitação comum e fariam refeições em comum, finalmente, seriam proibidos de negociar com dinheiro. Todas essas medidas eram para evitar que o guardião utilizasse sua posição para obter privilégios e assim, ao invés de ajudar seus concidadãos, os oprimiria.

Questões sobre o livro III da República - parte 2

4-9) A educação dos jovens – futuros guardiões

A sobrevivência da cidade depende do estrito cumprimento das funções a que cada cidadão é destinado por natureza, especialmente os guardiões, afinal são eles os responsáveis por vigiar a observância da justiça, devem ter um instinto de filósofo, isto é precisam ser capazes de discernir o bem e o mal e agir com coragem. Para atingir tal constituição, a sua educação deve ser considerada o fundamento da cidade justa. Todos os aspectos da educação dos futuros guardiões devem levar em conta o tipo de função que ele deverá exercer e o seu perfeito conhecimento da justiça. O critério da moderação e da simplicidade deve ser buscado em tudo, especialmente para se atingir o equilíbrio entre corpo e alma.
Assim é que, nos mitos e relatos poéticos devem ser evitadas as narrativas que realçam o caráter dramático da morte ou que apresentem os deuses e heróis em situações moralmente reprováveis; deve-se preferir mesmo as composições poéticas do gênero lírico e os poetas que não quiserem ou não forem capazes de obedecer tal critério devem ser expulsos da cidade ( eis aí o tema conhecido e controvertido da censura em Platão).
Quanto à música, deve também possuir um conteúdo moralmente elevado que instigue à busca e aprimoramento das virtudes, o que deve ser conseguido usando-se apenas instrumentos musicais simples (evitar a sofisticação que desvia a forma do conteúdo) e ritmos moderados.
Com relação à educação do corpo, será preciso harmonizar a prática de exercícios (ginástica) com uma alimentação adequada. Já se falou no livro II sobre a importância da ginástica, uma vez que esses guardiões serão guerreiros que defenderão a cidade e tem, por isso, que ser fortes e estar preparados para batalhas; quanto à alimentação, ela deve ser bem simples, evitando-se todos os excessos e os alimentos que provocam enfermidades (Platão faz eco a uma idéia que parece válida até hoje: a consciência de que a saúde do corpo depende basicamente de uma alimentação saudável).
Um papel curioso se reserva à medicina numa cidade guiada por tais regras de cuidados com o corpo; poderia se pensar que, cuidando do corpo dessa forma não haveria enfermidades e nem lugar para os médicos nessa cidade. Mas Glauco observa que mesmo nessa cidade, os bons médicos seriam necessários e Sócrates acrescenta que seriam aceitos na cidade os médicos que tivessem real conhecimento de sua arte para poderem atuar como juízes; sim porque a eles caberia decidir, em caso de doença de um cidadão (criança, jovem ou velho), se a doença era curável ou não e os que fossem considerados incuráveis seriam sumariamente descartados da cidade justa (este é possivelmente o ponto de mais difícil defesa na utopia platônica, parece uma justificação da eugenia tal como era praticada em Esparta e como modernamente se tentou fazer na Alemanha nazista; não se entende bem a necessidade disso, o que se pode dizer é que talvez Platão esteja se esforçando para chegar o mais próximo possível do estado de natureza).
Enfim, deveriam ser selecionados então para serem educados como guardiões os jovens que, desde cedo apresentasse tendência a viver segundo o critério da justiça e que, além disso se destacassem tanto nos cuidados com a alma como nos cuidados com o corpo, deviam procurar um equilíbrio entre a ginástica e a música, os que se destacassem só na música mas não fossem bons na ginástica seriam moles demais para exercer a função de guardião e os que se destacassem apenas na ginástica seriam grosseiros demais para a mesma função.

Questões sobre livro III da República - parte 1

13 Questões sobre o livro III da República de Platão.


1) Crítica de Sócrates à mitologia que então se ensinava às crianças

Duas são as críticas de Sócrates aos mitos contados às crianças: em primeiro lugar eles enchem as pessoas de medo da morte, em segundo lugar, eles apresentam muitas vezes os deuses e heróis, que deveriam ser modelos de comportamento, em situações moralmente degradantes (sendo injustos, egoístas, ciumentos, etc.).

2) Como deveriam ser os mitos na educação das crianças

Os mitos deveriam conter narrativas de conteúdo moral edificante e deveriam amenizar o drama da morte, para que as crianças cultivassem as virtudes (justiça, coragem, honra e temperança), sendo os deuses e heróis modelos para elas.

3) Os tipos de relatos poéticos

Sócrates classifica os relatos poéticos quanto à forma escolhida pelo autor para apresentar seu pensamento (note que esses tipos de relato poéticos são as composições de autor, ao contrário do mito, que é uma criação anônima). Se o autor expressa sua idéia de forma direta, temos o gênero lírico; se ele se utiliza de uma narrativa, expressando um sentimento ou pensamento por meio do enredo e da fala dos personagens, temos os gêneros tragédia e comédia e há um terceiro tipo que é uma mistura dos dois tipos anteriores, que é o caso da epopéia.

sábado, 16 de junho de 2007

Objetivo do Blog

Este será o meu canal de comunicação com os alunos do Culto à Ciência. Aqui eles terão acesso a itens complementares às aulas, lembretes sobre avalições e atividades, resumo das aulas. Também poderão comentar as reflexões do professor sobre o dia a dia na escola e fazer perguntas a respeito do conteúdo das aulas ou outro assunto relevante. Mas, atenção, só leio e respondo ao que estiver escrito em português.